Agora que todos estão serenos, leiam com atenção...

E enfim o FC Porto é campeão nacional. Ou melhor, bicampeão. Aquilo que, por obrigação própria, devia ter sido conseguido há algumas jornadas atrás apenas o foi na última jornada. Contrariamente ao que o FC Porto nos tem habituado, este foi, seguramente, um dos campeonatos mais “longos” das últimas décadas. Por ironia, agora que o campeonato tem menos jornadas devido à diminuição de equipas participantes, este foi aquele em que, comparativamente, foram precisas mais jornadas para se decidir o campeão nacional.

De facto, muitas ilações se poderão tirar desta vitória por “photo finish” dos azuis e brancos. A começar pela quase inédita situação de, à entrada para a última jornada, FC Porto, Sporting e Benfica poderem ser campeões. Penso que depois de adquirida a vantagem pontual do final da primeira volta seria quase impensável ver os dragões sofrerem tanto para alcançar o objectivo máximo, e quase obrigatório, de ser campeão. A equipa de Jesualdo amoleceu e fez surgir uma competitividade extraordinária, com o Sporting particularmente a exercer uma pressão quase demolidora.

Contrariamente a aqueles que defendiam a diminuição das equipas na competição profissional, em nome de uma maior competitividade e receitas (atrever-me-ia a dizer que para muitos em nome da mudança do crónico campeão nacional…), acho que apesar da luta pela título o desmentir, continuam enganados. De facto, continuo a defender que esta competitividade anormal se verificou por culpa exclusiva do FC Porto que se desleixou e permitiu aos seus rivais se aproximarem. Ainda para mais, se verificarmos bem o fosso dos três grandes para os outros aumentou ainda mais e não me parece que os estádios tenham estado mais cheios esta época.

Por isso, considero que, com maior ou menor dificuldade, a hegemonia do FC Porto no panorama futebolístico português continua bem visível, apesar dos esforços montados para o contrariar.

Parece-me indecoroso, no mínimo, que sempre que o FC Porto se sagra campeão nacional, haja sempre programas especiais em quase todos os canais televisivos a debater o estado de saúde do futebol português. Uns vociferam contra uma menor qualidade dos jogos, outros dos espectáculos, outros inventam algo apenas porque odeiam o FC Porto. De facto, lá voltaram esta semana os apelos absurdos e mimados de Filipe Vieira a pedir que o Apito Dourado ande para a frente, surgiram também os sportinguistas do costume a culpar Ronny pela perda de mais um campeonato e vieram os intelectuais de sempre analisar a pobreza que é ter quase sempre o mesmo campeão supostamente ao invés do que acontece na Europa do futebol.

Penso que várias coisas se poderiam dizer para, objectivamente, contrariar estes ressabiados na derrota. Desde constatar que nos principais campeonatos europeus os campeões são, também, quase sempre os mesmos. Parece-me, aliás, a lógica normal, desde que foi criada a champions league, que os campeões nacionais se recarreguem financeiramente na competição milionária e construam, por isso, as melhores equipas e aquelas que ganham mais vezes. E relembro que o FC Porto é recordista de participações na champions. Também me parece que culpar um erro de arbitragem ocorrido à terceira jornada, e num jogo em que nem um golo conseguiram marcar, por todo um campeonato parece-me, no mínimo, insultuoso à inteligência de qualquer adepto, inclusive sportinguista. Se tivessem vergonha na cara, os mesmos que afirmam que o golo de Ronny foi a mãe de todas as injustiças, poderiam lembrar-se de todos os jogos em que o amigo Lucílio os beneficiou e todos aqueles em que, à rasquinha, lá se safaram com o um a zero ou ainda aquele campeonato em que ganharam com uma enormidade de penalties assinalados a favor.

Enfim, creio que se poderia dizer muita coisa em abono da vitória portista. Jesualdo afirmou, nas celebrações do título, que ganhar no FC Porto é muito mais difícil e, por isso, de maior valor do que noutro lado qualquer. Lá terá as suas razões e a experiência de quem já passou por muitos sítios diferentes no futebol. Por isto tudo, acho que a melhor resposta que o FC Porto poderia dar a todos os seus costumeiros detractores era o de uma vitória mais precoce. Acho que nenhuma vitória vem tarde de mais mas, na verdade, este título do FC Porto poderia e deveria, dadas as circunstâncias, ter sido conquistado muito antes do que a última jornada.

A pedido do Subbuteo